Quando eu era pequeno, pouco entendedor de ironias e duplos sentidos, como a maioria das crianças, não entendia quando Roberto Carlos cantava: "tudo certo como dois e dois são cinco", versos da música de Caetano Veloso, "Como dois e dois". Não entrava na minha cabeça, limitada e matemática, por mais que me explicassem que isso queria dizer que estava tudo errado. Hoje, interpreto essa frase não apenas como uma afirmação de que tudo está errado, mas de que nada, ou quase nada na vida é apenas certo ou errado, a não ser a matemática. A vida não é uma ciência exata.
Talvez por isso, desde que eu me entendo por gente (se é que eu já me entendo como tal), acostumei-me a ouvir argumentos e, não raro, mudar de opinião, mudar de lado, quando o lado oposto me convence. Gosto de ser convencido do contrário, sinto-me uma pessoa melhor depois disso, crescendo em aprendizado. Como uma seixiana metamorfose ambulante, mas consciente.
Passar uma temporada em cima do muro, local privilegiado onde vislumbramos os dois lados, numa visão ampla, aberta e transigente, acreditem, pode ser, também, uma experiência boa e, às vezes, mais enriquecedora do que simplesmente entrar numa discussão com opinião formada e firmada, sem cogitar mudanças que não sejam na idéia alheia, sem possibilidade de acordo, parecendo, em vez de estar em cima, ser o próprio muro, estático.
Em certas situações da vida, em que não sabemos de que lado ficar, ou, como num palíndromo analítico-existencial, por um lado ou por outro não vemos diferença, o rumo ao muro é o melhor caminho. Ou uma escala, que devemos seguir sem medo nem culpa, com firmeza, como dois e dois são quatro. Ou cinco...
quarta-feira, 4 de julho de 2007
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