domingo, 13 de maio de 2007

Na Cama

Um casal de desconhecidos numa cama de motel.

Poderia ter sido pior, não fosse o claro contraste entre a conversa e a trepada. De encontro à frivolidade morna do diálogo entre Bruno e Daniela, sexo dinâmico, autêntico, calado. À troca de palavras, só de palavras, eis que de idéias, vazias, ou já saturadas de senso comum, a ponto de não veicularem qualquer novidade para si ou para o público - a transferência safada de fluidos.

Esse foi o trunfo, aliás. Porque depois do orgasmo, iam se amontoando lugares-comuns da nossa cultura (no Chile ou no Brasil) em falas despersonalizadas; os personagens se anulando completamente ao discurso fantasma, requentado milhares de vezes aqui e ali, e, até os atores iam malatuando antipáticos.

Um sempre assim agoniante estendendo o anti-orgasmo em palavras broxas: nem tensão, nem tesão. Intenção, por parte do diretor, houve? Quer dizer, queria ele, com as falas e a falta de espírito dos personagens, realizar um meta-discurso? Acho que não, ele as pretendia autênticas. Tanto que o sentimentalismo do desfecho aponta para um aprofundamento da relação entre Bruno e Daniela, que, ainda assim, resta emulado.

Mas o caso é que havia um contraponto óbvio entre as cenas de sexo e as cenas de fala, revelando-se naquelas os alguns minutos de integridade dos personagens. Mais longe da fala, mais perto do falo, mais autênticos, mais humanos e menos objeto eram Bruno e Daniela.

Quando, afinal, acontece a situação muito típica da camisinha furada, homem e mulher se apropriam dos seus discursos e tratam de distribuir responsabilidades, amadurecendo imediatamente, ante o que há de não utilitário no acontecimento. Depois, reconciliam-se, novamente na palavra oca.

Outra leitura possível: um casal de desconhecidos conhece, em apenas uma noite no motel, a dinâmica da convivência, perpassada por aproximações e distanciamentos mediados pelo sexo.